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sexta-feira, 26 de junho de 2009

Um pouco de minha história...

Quando ingressei como uma das primeiras professoras na Escola Municipal de Educação Especial - EMEE Profª Vera Lúcia Aparecida Ribeiro em 1988, a escola começava suas atividades com poucos alunos.
Foi um grande avanço no segmento educacional para surdos em São Paulo, pois havia poucas escolas e as famílias percorriam grandes distâncias e a partir desse período, com a inauguração de novas 03 unidades educacionais para surdos, iniciou-se a expansão e a descentralização geográfica.
Em 1986 iniciei minhas atividades docentes com alunos surdos e tinha inúmeras perguntas, mas acreditava ter também algumas respostas.
Em 1988, na antiga EMEDA (Escola Municipal de Educação para Deficientes Auditivos) atual EMEE Profª Vera Lúcia Aparecida Ribeiro surgiram propostas para a logomarca da escola, com o objetivo de retratar a identidade da escola.
Propus então, um desenho que demarcasse a localização geográfica da escola, por sua proximidade ao Pico do Jaraguá (foto de Jorge Myslinski Filho).

Durante anos as camisetas da escola levaram essa imagem como marca de sua identidade geográfica.
Após 20 anos de atividades da escola, e que sem dúvida ocorreram mudanças, não só na escola, mas em minhas respostas que foram se reduzindo ano a ano, mas em minhas perguntas que só se multiplicaram. A escola se preparava para comemorar seus 20 anos de atividades educativas e novamente havia a necessidade de atualizar a marca da identidade da escola e apresentei novamente uma proposta.

Desde 2008, a escola vem utilizando essa nova proposta o que muito me alegra, afinal, marca minha presença na trajetória da escola, além da significativa transição linguística e educacional do trabalho desenvolvido.
Uma identidade que hoje ultrapassa a questão geográfica e marca a construção de um trabalho educacional que respeita o direito à diversidade linguística do surdo, seu direito de ser bilíngue, e a partir dessa perspectiva, incluí-lo de fato na sociedade e no mercado de trabalho, como um sujeito diferente, mas com potencialidades.
Desde 2004, venho atuando na EMEE com jovens e adultos surdos, muitos com ingresso tardio na escola, mas sem dúvida alguma, trazem muita garra, força de vontade, e o que é melhor, nos ensinam novas formas de ensinar.
A satisfação que eles demonstram em fazer parte dessa comunidade é imensa, e eles revelam esse sentimento em pequenos momentos, principalmente quando expõem o desejo de carregar tal imagem em suas camisetas. Esse processo identitário só é possível pela língua.
Assim posto, creio que as palavras de Flusser (2004, p. 37) podem complementar nosso pensamento a respeito da língua.


Ela nos liga aos nossos próximos, através das idades, aos nossos antepassados. Ela é, a um tempo, a mais antiga e a mais recente obra de arte, obra de arte majestosamente bela, porém, sempre imperfeita. E cada um de nós pode trabalhar essa obra, contribuindo, embora modestamente, para aperfeiçoar-lhe a beleza. No íntimo sentimos que somos possuídos por ela, que não somos nós que a formulamos, mas que é ela que nos formula. Somos como que pequenos portões, pelos quais ela passa para depois continuar em seu avanço rumo ao desconhecido. Mas no momento de sua passagem pelo nosso pequeno portão, sentimos poder utilizá-la. Podemos reagrupar os elementos da língua, podemos formular e articular pensamentos. Graças a este nosso trabalho ela continuará enriquecida em seu avanço. (Flusser, V. Língua e Realidade. São Paulo: Annablume. 2004. 2ª Edição)

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