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domingo, 11 de abril de 2010

Centro Cultural Banco do Brasil - progamação cultural acessível

O CCBB - Centro Cultural Banco do Brasil apresenta uma programação voltada para o público com deficiência, de 22 a 25 de abril. Durante este período serão realizadas ações educativas que estimulam a inclusão e a acessibilidade aos bens culturais.


PROGRAMAÇÃO

• Visita Sensorial | de 22 a 25 de abril, às 12h e às 16h
Visita inclusiva para deficientes visuais e para o público em geral, que será convidado a utilizar vendas nos olhos durante o percurso. Venha conhecer o prédio do CCBB, sua história, os estilos arquitetônicos e sua
relação com a cidade de São Paulo a partir da experimentação do espaço e de outras propostas lúdicas. Duração média de 1h.
Locais: Fachada, cofre no subsolo, térreo, 1º, 2º e 3º andares

• Visita às exposições em Língua Brasileira de Sinais | de 22 a 25 de abril,
às 10h e 15h
Visita mediada pela exposição “A Expedição Langsdorff” e “Ossário” para surdos ou ouvintes fluentes em Libras. 

Horários exclusivos para escolas e grupos, por meio de agendamento prévio. Duração média de 1h.
Local: Térreo, 1º, 2º e 3º andares

• Laboratório de Ações Criativas | 22 a 24 de abril, às 17h e 25 de abril,
às 11h, 15h e 17h
Atividades de artes plásticas multissensoriais, realizadas para o público em geral.
Local: Mezanino

• Musicando | 22 de abril, às 13h e 24 e 25 de abril, às 14h
Atividade que explora as possibilidades sonoras voltadas para o trabalho de inclusão.
Local: Mezanino

• Em Cantos e Contos | 23, 24 e 25 de abril, às 13h
Histórias selecionadas pelo grupo de contadores, com tradução simultânea para Libras e acompanhamento musical.
Local: Mezanino


SERVIÇO

Data: 22 a 25 de abril
Local: CCBB | Rua Álvares Penteado, 112 - Centro
Classificação indicativa: a partir de 5 anos
Entrada franca - mediante retirada de senha a partir das 10h do dia do evento.
Para programação detalhada e mais informações, consulte o folder do evento.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

CONAE 2010 ou CONGRESSO DE MILÃO 2010

Desabafo...


Fico feliz pelas diversas conquistas apontadas e sem dúvida necessárias aos dias de hoje, no entanto, sinceramente, quanto às questões da educação dos surdos e o respeito à sua diversidade linguística, tivemos um retrocesso.
É quase o CONGRESSO DE MILÃO, a revanche...
Infelizmente, as pessoas que apoiam a inclusão do surdo desde tenra idade, anunciam seu desconhecimento das questões linguísticas que de fato, envolvem a educação do surdo, creio que inclusive desconheçam o sujeito surdo.
Infelizmente também, a maioria das pessoas que tratam a inclusão do surdo de forma tão radical e irrestrita, está decretando sua exclusão a médio e longo prazo. Ficam alijados do exercício de sua cidadania, do direito ao trabalho, alcançando muitas vezes na idade adulta, sub-empregos se não tiverem por trás uma família atuante e engajada. Não falo sem sustentação. Atuo na educação de surdos desde 1986. Tive a oportunidade de dar aulas para jovens e adultos surdos, que contaram suas histórias de vida, histórias de falta de informação, pois a língua de acesso aos saberes da humanidade que lhes fora oferecida, era inacessível. Retornam à escola, depois de anos, no entanto, gratos pelo professor que lhes ministra aulas em língua acessível, língua que lhe dê significado.


As linguagens e línguas criam fundos estruturantes no qual o homem é capaz de se expressar. [...] Novos sentidos vão podendo ser atribuídos às coisas e estes vão se tornando passíveis de serem comunicados, ampliados e transformados.

Para Merleau-Ponty, cada povo, assim como cada homem, tem a maleabilidade de adquirir um modo de atribuir sentido às coisas. Cada língua emerge de uma forma de direcionamento ao mundo que vai oferecendo aos seus integrantes um fundo comum, que também orienta seu olhar ao mundo. Essa forma de “ver” e “lidar” com o “ao redor” não pode ser tomada, entretanto, como aprisionadora, pois é, antes, o solo do qual o homem precisa para germinar, mas que se dá na temporalidade e dentro de sua própria individualidade. Cada pessoa irá destacar-se como um ser único ao usar a língua ou línguas das quais tenha se apropriado, não podendo esquecer-se de que estas são vivas, estando em constante mutação em meio à existência. ( Rocha ,1997, p. 104 - Joel Martins... um seminário avançado em fenomenologia)


Não defendo educação especial para surdos, pois a educação deve ser uma prática transformadora, especial por potencializar a autonomia. Especial é cada um de nós: surdos, ouvintes, cadeirantes, negros, gays, mulheres, pobres, superdotados, disléxicos, "nem isto" ou "aquilo"... mas, cada ser, em sua essência única.


Acredito que a alegação de "evitar a segregação" é novamente mascarar o preconceito à diferença linguística, é não aceitar que inclusão é dar a todos as mesmas oportunidades, considerando-se as diferenças.


O respeito à diversidade linguística das comunidades indígenas nos parece fácil, já que eles possuem um território próprio. Não os encontramos no supermercado, no cinema ou no shopping tentando se comunicar conosco, que desconhecemos sua língua. Não nos provoca nenhum desconforto, nem nos impõe aprender sua língua.


Os surdos estão em toda parte, em todo o território e por mais se que queira negar a língua de sinais, ela é a língua que ele aprende naturalmente se exposto a ela naturalmente, no encontro com seus pares linguísticos. Foi assim que aprendi a minha língua, de forma natural. Frequentei vários anos de bancos escolares e ainda hoje aos 47 anos, me deparo com conflitos e dúvidas sobre minha língua, e não se esqueça de que ela nunca me foi negada.


A língua oral, ele pode aprender a duras penas e anos de dedicação, e mesmo assim, nos causar desconforto.
Parece me que o argumento de "evitar a segregação" é um camuflagem. É novamente a história obrigando o surdo, neste universo da inclusão à toda prova, que aprenda a língua oral majoritária.


Gostaria de compartilhar uma frase do filósofo Vilém Flusser sobre a língua:

[...] a língua tal como se desenrola dentro da nossa mente, formando e governando todos os nossos pensamentos. Surgirá a suspeita, e mais que mera suspeita, da identidade entre língua e pensamentos. [...] No íntimo sentimos que somos possuídos por ela, que não somos nós que a formulamos, mas que é ela que nos formula. ( 2004, p. 35 e 37- Língua e Realidade).

Sei que muitos não entenderão minha tristeza, mas espero imensamente, que minhas palavras possam ser fluídas como água, que penetra o solo e germina a semente sem ser vista, até que um dia, surge na terra, o broto, ansioso por se tornar árvore.